A homossexualidade feminina

A história de Suely, uma mulher casada e com filhos que se apaixonou por outra mulher

Suely é uma comerciante de 39 anos. Casada há 18, tem um casal de filhos adolescentes e uma relação bastante tranquila com o marido; há entre eles carinho e muita amizade. Entretanto, de oito meses para cá, sua vida deu uma reviravolta. Foi quando precisou contratar uma nova gerente para sua loja, e conheceu Flávia. O convívio constante com a moça, 12 anos mais nova, fez com que percebesse como se sentia atraída sexualmente por ela. Flávia, que já havia tido outras relações homossexuais, facilitou as coisas e não demorou muito para iniciarem uma relação amorosa e se apaixonarem. Sem saber bem que atitude tomar, Suely desabafa: “Todos os homens com quem transei, e aí se inclui o meu marido, estiveram mais preocupados com o prazer deles do que com o meu. Sempre foi muito difícil para mim chegar ao orgasmo. Com a Flávia é maravilhoso, além de eu ter vários orgasmos seguidos, temos uma transa muito mais demorada e gostosa”.

A primeira homossexual de que se tem notícia é a poeta Safo. Ela viveu no século VII a.C., em Lesbos, uma ilha grega ao norte do Mar Egeu. Seus poemas, dirigidos às mulheres, são ardentes e sensuais As mulheres que amam pessoas do mesmo sexo são chamadas de lésbicas em referência ao lugar onde ela nasceu. Safo era objeto de gracejos obscenos e julgamentos moralistas. Seus amores foram ridicularizados pelos poetas cômicos de Atenas.

Mas hoje, 2700 anos depois, como as pessoas reagem à homossexualidade feminina? Sem dúvida, ela sempre foi mais tolerada do que a masculina. Socialmente existe maior liberdade para as mulheres se tocarem, se beijarem, se aconchegarem, manifestando carinho umas pelas outras. A relação amorosa entre elas é menos evidente e é mais fácil dissimular sua verdadeira orientação sexual.

Duas mulheres bonitas e atraentes podem formar um casal, confundindo as pessoas, que ficam surpresas quando percebem sua orientação sexual. Nas pesquisas de Shere Hite sobre sexualidade feminina, 144 mulheres (8% das entrevistadas) declararam preferir fazer sexo com mulheres.

Contudo, o fato do corpo feminino não ser provido de órgão de penetração intriga muita gente, que não entende como pode haver uma relação sexual sem a presença do pênis. O prazer é possível porque a excitação da mulher é diferente da do homem: é uma resposta de todo o corpo. Lábios, pescoço, orelha, barriga, costas, seios, nádegas e joelhos são algumas das zonas erógenas femininas mais importantes.

Alguns autores chegam a afirmar que, na nossa cultura machista, se o prazer sexual for medido por resposta orgástica, o sexo entre duas mulheres parece mais bem sucedido do que a atividade heterossexual, além de se encontrar nele maior igualdade no dar e receber da experiência sexual.

Muitas mulheres se queixam de que o homem, por não perceber que a excitação do corpo feminino não é necessariamente alcançada por meio de sensações genitais, inicia o ato sexual estimulando diretamente o clitóris. E, sem preliminares, parte logo para a penetração, o que desagrada à mulher, não lhe dando nenhum prazer.

Entretanto, acredito que nada disso significa que um homem não possa dar grande prazer a uma mulher, desde que ele rompa com os estereótipos de sexualidade masculina da nossa cultura patriarcal e se proponha a trocar afeto e prazer com a parceira, sem preocupações com o próprio desempenho.

Há algum tempo perguntei a algumas pessoas o que pensam a respeito da homossexualidade feminina. [Deixe também seu comentário abaixo]:

"Esteticamente acho muito bonito. Sou um voyeur, gosto de ver, não me choca. Mas acho muito fácil o amor entre iguais. Aposto mais no amor hetero; é mais difícil você encontrar o prazer no sexo diferente do seu". Sílvio Tendler - cineasta

"Acho normal, assim como o amor entre homens. Depende da natureza erótica de cada um. A tendência do mundo é a bissexualidade". Tônia Carrero - atriz

"Os casamentos lésbicos que eu conheci eram de tal forma harmônicos e felizes que eu diria que se eu fosse mulher pensaria seriamente no assunto. Neles eu percebia uma tranquilidade que dificilmente vi nos casais hetero. Às vezes, o homem é tão sacana com a mulher, tão insincero, que muitas mulheres devem ficar de saco cheio e procurar outra mulher". Lula Vieira - publicitário

"A mulher, quando opta por uma relação com outra mulher, geralmente pega o pior do homem, o lado machão. E o homem também, quando resolve ser gay, pega o pior da mulher, o lado fútil. O interessante é a liberdade absoluta, ninguém precisar representar papéis, viver preso a estereótipos. Ter uma relação natural com alguém do mesmo sexo, sendo você mesmo, é o grande desafio. Mas isso é o que ameaça o sistema, então, se impõem a essas pessoas estereótipos de bicha louca ou de mulher machona, e todos caem como patinhos". Marcus Alvisi - diretor de teatro

"Kinsey e outros pesquisadores concluíram que entre os humanos há mais machos do que fêmeas praticantes do homoerotismo. A meu ver, a predominância numérica e política dos gays deve-se ao fato de que quando um homem não sente tesão pelo sexo oposto, simplesmente ele não tem ereção, inviabilizando a relação erótica. As mulheres podem camuflar muito mais facilmente sua homossexualidade, pois mesmo não gostando de homens, podem ‘suportar’ passivamente penetrações, sem levantar suspeita sobre seu verdadeiro objeto de desejo. As lésbicas são muito mais aceitas que os gays, pois mesmo as ‘sapatonas machudas’ ameaçam menos a hegemonia do macho: o gay, sobretudo quando andrógino, abala e balança o pedestal do macho, por abdicar da dominação das fêmeas e assumir papéis e fantasias do sexo frágil". Luiz Mott (antropólogo, ativista gay)

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