Jornalistas questionam existência de blogueira lésbica presa na Síria

Falta de acesso a informações da Síria pode ter reforçado farsaJornalistas levantaram dúvidas sobre a existência de uma blogueira homossexual que ganhou projeção com textos sobre a revolta popular na Síria e sobre como é ser lésbica em seu país.

Textos no blog de Amina Arraf sugerem que ela foi detida por forças de segurança sírias em Damasco. Ela teria dupla cidadania - americana e síria - e publicava textos em inglês no blog A Gay Girl in Damascus ("Uma Menina Gay em Damasco", em tradução livre).

Arraf conquistou fama com o blog, no qual fala abertamente sobre sua sexualidade e critica o presidente sírio, Bashar Al-Assad.

Fãs criaram uma página no Facebook dedicada aos pedidos de libertação da blogueira, e a hashtag #FreeAmina é uma das mais populares do Twitter.

Mas, para o jornalista americano Andy Carvin, da National Public Radio dos Estados Unidos e especialista em desmascarar boatos da internet, nenhum dos relatos da prisão da blogueira parecem ter sido escritos por jornalistas que já tinham se encontrado ou entrevistado Arraf.

O jornal americano The New York Times afirmou que, "apesar de ser possível que a autora do blog tenha sido realmente detida e que tenha escrito um relato factual e não ficcional dos eventos recentes na Síria, os leitores deveriam saber que uma pessoa que se identificou - para o The Times, à BBC e à Al-Jazeera - como uma amiga pessoal da blogueira, Sandra Bagaria, agora esclareceu que nunca realmente se encontrou com a autora de A Gay Girl in Damascus".

Bagaria, que é canadense, disse ao The New York Times que também nunca conversou com Arraf face a face via Skype, mas tinha um relacionamento online com a blogueira desde janeiro, incluindo a troca de mais de 500 emails.

Segundo o jornal The Washington Post, as suspeitas aumentaram novamente na quarta-feira, quando uma relações públicas de Londres, Jelena Lecic, alegou que as fotos de Arraf eram, na verdade, dela.

Lecic deu uma entrevista ao programa da BBC Newsnight na quarta-feira, confirmando que as fotos, que mostram uma jovem com uma pinta cima do olho esquerdo, tiram sido retiradas de sua página do Facebook.

"Nunca encontrei Amin, não sou amiga dela", disse Lecic ao Newsnight.

O jornal americano também afirma que posts que questionavam a existência de Arraf na página Free Amina, no Facebook, parecem ter sido retirados.

O jornalista Robert Mackey, do The Washington Post, também descobriu que partes dos textos do A Gay Girl in Damascus apareceram anteriormente em um outro blog que teria sido publicado em 2007 pela própria Arraf, que se descrevia como uma "mistura de fato e ficção" e que o autor "não iria dizer qual é qual".

Prisão?

Segundo um texto publicado na segunda-feira no blog A Gay Girl in Damascus por Rania Ismail, que afirma ser prima de Arraf, a blogueira teria sido levada por três homens armados, que a arrastaram para dentro de um carro.

Mas, de acordo com o The Washington Post, Arraf, Rania Ismail e Sandra Bagaria ainda não responderam a nenhum dos emails enviados pelo jornal.

A jornalista da BBC Jill McGivering escreveu no blog do programa World Have Your Say que todas estas dúvidas em relação à existência de Arraf destacam um problema maior, "o nevoeiro de informações que cercam os eventos na Síria".

"Existe pouca confirmação independente de eventos, e não há acesso (ao país) para jornalistas estrangeiros. O quanto podemos saber com certeza sobre o que está acontecendo lá?", questiona a jornalista.
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